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sexta-feira, 11 de julho de 2014

Saudade de um corpo



 

Saudade de um corpo

 
Os nossos corpos tinham não sei que primavera,

Quando em noites de Maio, na influência da lua,

Florescia entre nós um silêncio de espera,

Se a minha mão pousava na tua.

 
Tímidos e febris, só os sentidos falavam,

Até que a tua voz, expulsando o torpor,

Receosa, talvez, de uns passos que passavam,

Se punha a divagar sobre a noite e o calor.

 
Nunca nos acalmou a frescura de um beijo;

É feliz a amizade! E o amor é tão sério

Que cada um guardou, para si, o desejo,

Temendo ver voar a asa do mistério.


Arrependido? Sim: preferia recordar

Um corpo saciado, a um corpo reprimido;

O momento fremente de o despir e enlaçar

E de o sentir ranger, como range um vestido.


É caso para parafrasear Camões:

Mais vale experimentá-lo… que transportar pela vida um desejo insaciado.

 

O poema foi transcrito de O Coração e a Espada, Edições Távola Redonda, 1953.

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