Saudade sinuosa , atenciosa, vibrante e excitante ..sigo no horizonte... mesmo nas curvas, sempre encontro a reta que me leva até você, é tão expectante que vibra feito um dó ,um si,um sol todas as notas musicais presentes, formam...um tom ...um silêncio que concretize a doce melodia de apetecer em ti. *Diniz* foto by Valentine
songs
songs
domingo, 29 de dezembro de 2013
sábado, 28 de dezembro de 2013
Trecho de água viva Clarice Lispector
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Dia de natal
DIA DE NATAL
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes, a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha~se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra - louvado seja o Senhor! - o que nunca tinha pensado comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda~o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus,
doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas alturas
*
Em 1967, o poema NOITE DE NATAL foi publicado no jornal dos estudantes do Liceu de Camões. O reitor mandou apreender esse jornal.
*
(CC)
domingo, 22 de dezembro de 2013
Canto-te
|
Canto-te para que tu definitivamente
existas
Canto o teu nome porque só as coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
Canto o teu nome como o homem fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras
Canto o teu nome como o feiticeiro invoca
a magia do remédio
Canto o teu nome como um animal uiva
de
Como os animais pequenos bebem nos regatos depois
das grandes feras
Canto-te
e tu definitivamente existes nos meus olhos
Sempre abertos porque é sempree os meus olhos
são os olhos da criança que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço
Canto-te
e os meus olhos sempre abertos são a pergunta
instante pendente de eu te interrogar
e interrogo as coisas em seu ser noctumo
em seu estar sombriamente presentes na tua claridade
obscura
E como é sempre
meus olhos abertos prescrutam-te
símbolo de tudo o que me foge
como apertar o ar dentro das mãos
e querer agarrar-te
oh substância
Canto-te
com a fragilidade de tudo que existe perante
uma eternidade demasiado nocturna para os nossos
olhos infantis perante a tua antiguidade
futura
E a nossa voz é uma pequena onda no dorso
do teu oceano de matéria
Um leve arrepio apenas na espantosa espessura
de teu éter
Ah no ar é que tudo acontece
no ar nocturno das idades esquecidas
que previamente desconheceremos
No espaço é que tudo acontece
e o espaço é uma grande muito quieta
onde os nossos olhos penetram
no não sabermos até onde
ali
além
no além onde tudo acontece
Oh
oh espaço de tudo ser tão ligeiro e impalpável
e sermos nós a respiração da
teu bafo ritmado
imperceptível distância
Oh augusta majestática dignidade do silêncio
Oh impassibilidade da tua mecânica celeste
Oh organismo primeiro de todos os fins secretos
da compreensão das coisas
Oh inorgânico organismo dos seres
que se devoram
Oh diz
a quem servimos nós de pasto
Canto-te
como quem pronuncia o Mantra esotérico do teu nome
Canto-te e grito
para que a poeira que se infiltra em todas as
coisas se erga de ti como um plâncton
Oh Madre
matriz das criaturas inferiores que rastejam
a teus pés cobertas de pó
esse pó que a cada momento ameaça submergir-nos
Oh aranha enorme tecendo tua teia de pó
Oh que desintegras tudo e tudo tu constróis
Ah como nós lambemos tuas duras mãos
Oh que fustigas nossos olhos com tua sombra
Enorme
Oh que deixas tanto espaço para o silêncio
das mil pétalas
dos mil braços esplendorosos em seu abandono
dos murmúrios
dos afagos
sangue derramado sobre o mundo
Oh
Porque és sempre tão premente?
e sempre estás ausentemente
na tua constância em todas as coisas?
Oh sono
Oh morte tão desejada e longa
mágica povoada de átomos
milhões de espíritos enchem o teu sopro
E penetras em nós como uma bala
E tudo morre quando tu chegas
E tudo se dilui e se transforma em ti
alada presciência de tudo acontecer
tão longe de nós e tão antigamente
e tudo nos ultrapassar com soberana indiferença
ante os nossos olhos cegos pelo teu negrume
Oh
brilha para dentro de mim
Acende teus luzeiros em meus olhos
Ergue teus braços oh prenhe de tudo
Oh vaso
Oh via láctea de nos amamentares com teu leite
de sombra
Oh úbere e pródiga
Aleita tua ninhada faminta
Grande fera luzidia
Grande mito
Grande deus antigo
Oh urna onde todos dormimos
Oh
Meus olhos choram já de tanto prescrutar-te
E canto-te
Canto-te
Para que tu existas
E eu não veja mais nada além de ti
E nada mais deseje senão que venhas outra vez
levar-me para dentro do teu ventre
de nunca mais haver
E nada mais haver que
Oh tu definitivamente além
Ana Hatherly
Poemas de Eros Frenético e Contemporâneos
um calculador de improbabilidades
Quimera
1ª edição 2001 |
Recordações
Quando o sol te banhar
Roçar o teu corpo
E de leve o vento soprar
As tuas lembranças...
Não se esqueça que você
Calou a voz da saudade
Não se perca de novo
Não deixe que o tempo iluda tua poesia
Mas que alegria te dar um bom dia
Te trazer pra mim
Quando a lua brotar nos teus sonhos
Soluçar o amor
Quando o céu desmaiar no teu corpo
Beber teu suor
Quando a brisa brigar e ferir teu prazer
Sou eu em você
Quando o amor chegar, por favor
Não se perca de mim
Meu domingo sem sol
Me acordou pra chorar por você
Quantas vezes briguei com o meu corpo
Pra não te querer
Minha poesia
Que alegria
Te dar um bom dia
Te trazer pra mim
N.Diniz
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Dan cezar
De tudo tenho certeza e abrevio sentimento :acredite valeu
__________🌹
Tenho talvez uma certeza que me difere.
Que não fere ninguém, apenas sinto.
É um instinto de verdade, uma beleza de sentimento que marca esse meu momento.
Se o tempo se faz início, agradeço.
Exerço minha sintonia, e, sigo alegria, fé, amor.
Sei que ali na frente vou encontrar dor, pois, vida que é arte, dor, faz parte.
Procuro um caminho de luz, pois, minha coragem é tremenda.
Não emenda com falsas verdades, com ridículas bobagens que fazem de qualquer tempo, o passatempo que não valeu.
Sou mais eu, quando encaro qualquer nunca de frente e acredito no sempre.
Minha vida é voz do corpo, ativa.
Minha emoção dá viva à toa onde soa qualquer cumplicidade.
De vida, de corpos, de intenções.
Se minhas atenções hoje são pra você, é sinal bom. Você vestiu o tom, e se fez.
Mais uma vez me emociono, quando escrevo, você.
Porque perceber quem vale à pena, às vezes demora.
Mas com você, na hora, minha hora se admitiu serena.
Faço pequena minha saudade, porque na verdade, você é presença, inteira.
E se quero uma brincadeira, é de ser feliz, até onde der.
Porque enquanto eu puder, quero fazer dos meus dias felizes, os mais longos, os mais nossos.
Foi bom te saber. Foi ímpar caber, dentro.
E se hoje você é centro, uma palavra: valeu!
Dan Cezar
Conta o tempo
Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta, e não há tempo.
Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta!
Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...
soneto escrito, no século XVII, por Frei António das Chagas - frade da Ordem de São Francisco. - de seu nome , António Fonseca Soares
(através de Hortênsia Calçada)
Ilustração de Alia Qunhua
sábado, 14 de dezembro de 2013
Balada de neve
Balada de Neve
É talvez a ventania:Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
Dan césar
Meu tempo de você é meu melhor tempo.
Meu tempo de você é nosso maior passatempo.
Meu tempo é você.
Dan Cezar
Dan césar
Um dia tive a infeliz ideia de contar o tempo longe de você. Concluí que não sei contar até sempre.
Dan Cezar
Dan césar
e você chora
e você para
e você olha
e você sente
imensamente
essa saudade
que não mente.
vem,
e demora
e fica
e causa
em mim
um instante, assim
consequência.
um até te separa
daquilo que sinto
daquilo que é fé
daquilo que é seu
daquilo que é
amor tanto
enquanto, verdade.
Dan Cezar
Dan césar
um instante
um tato
bastante
cortante
viciante
totalmente
apaixonante
que eu fico
assim,
céu,
seu.
Dan Cezar