songs

songs

sábado, 26 de março de 2016

Clarice Lispector


Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."
Clarice Lispector


Ângelus Silésius, místico só escrevia poesia, disse o seguinte: “Temos dois olhos. Com um contemplamos as coisas do tempo, efêmeras, que desaparecem. Com o outro contemplamos as coisas da alma, eternas, que permanecem.” Eis aí um bom início para se compreender os mistérios do olhar! Para se entender os mistérios do ouvir eu escrevo uma variação: “Temos dois ouvidos. Com um escutamos os ruídos do tempo, passageiros, que desaparecem. Com o outro ouvimos a música da alma, eterna, que permanece.” (Rubem Alves)

Cazuza


Poema
🌹
(...) O passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim,
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás
...🌹
Cazuza.

Dan Cezar


Eu acordo desesperado de ontem. De antes. De nunca. Não quero ter a lembrança daquilo que não pude ser. Não quero perder o teu sorriso que carrego no bolso do meu instante. Não pretendo desviar olhares das borboletas que nos brindaram um céu inteiro do melhor azul. Não vou deixar de sentir o teu perfume porque o tempo esqueceu-se de combinar com o destino a nossa hora. Não vou fugir da tua boca trêmula de vontade de um amor. Não, não vou. Eu vou seguir na certeza que uma esquina inspirada vai versar teu olho no meu. De novo. Enfim.

Dan Cezar

Atemporal



Atemporal
🌹
Não se deixe enganar pelo tempo
Ele é ardiloso, te conduz sem que percebas
Num momento um sorriso infantil
Noutro as rugas de preocupação.

Não permita que a solidão dite as normas
A vida escorrega entre os dedos, se não a vivermos
Nada deve ser deixado ao acaso
Ou o ocaso te alcança antes do evento.

Não se deixe enganar pelo tempo
Cada segundo conta, cada minuto faz falta
No agora se faz o hoje
Do hoje se faz o amanhã.

Não vá se perder na ilusão
Crie as perspectivas, use as cores
Os cãs se espalham na fronte
Tudo é relativo, até seus amores...

Não se deixe enganar pelo tempo
nele é traiçoeiro, chega de mansinho
Num momento, do balbuciar ao amar
No outro, sentar e esperar...

Não se deixe enganar pelo tempo
Em um lampejo, acaba o tormento
Se não lança, à aventura ao vento
Nem as lembranças servirão de alento...

François Camargo

domingo, 6 de março de 2016

Renas Barreto

Papéis inesperados,
saltaram das gavetas
lembrando de alguém
que me fez feliz.

Renas Barreto

WILLIAM SHAKESPEARE


..

Aprendi que Amores eternos podem acabar em uma noite.
Que grandes amigos podem se tornar grandes inimigos.
Que o amor sozinho não tem a força que imaginei.
Que ouvir os outros é o melhor remédio e o pior veneno,
Que a gente nunca conhece uma pessoa de verdade, afinal, gastamos uma vida inteira para conhecer a nós mesmos.
Que os poucos amigos que te apoiam na queda, são muito mais fortes do que os muitos que te empurram.
Que o "nunca mais" nunca se cumpre, que o "para sempre" sempre acaba. Que minha família com suas mil diferenças, está sempre aqui quando eu preciso.
Que ainda não inventaram nada melhor do que colo de Mãe desde que o mundo é mundo.
Que vou sempre me surpreender, seja com os outros ou comigo.
Que vou cair e levantar milhões de vezes, e ainda não vou ter aprendido TUDO."
Estamos aqui de passagem..
imagem Robert Hagen