songs

songs

terça-feira, 20 de agosto de 2013

A cor negra



A cor negra

Uma estirpe malévola de sonambulismo diurno sujeita-me a mente a mutações constantes. A nitidez é engolida pelo difuso. Projecções disformes da realidade ironizam-me o olhar em constantes movimentos. Os esgares atormentam-me os sorrisos e as palavras jorram incoerentes e cáusticas. Uma clarividência perturbante rasga em meteóricos momentos a teia de pensamentos caóticos que me aborda a sanidade. A noção do tempo é uma nebulosa sem nome que vagueia pelo espaço em busca de Andrómeda. O asco é vestígio residual da relutância com que engulo as rotações do planeta. Subo em lúcida inconsciência o penhasco mais alto na tentativa de tocar o universo com as pontas dos dedos. Suponho penetrar assim os mistérios que ele se recusa a desvendar. Mas o abismo é uma equação irresolúvel. A eterna incógnita traduzida pela letra que mais abomino, o x, levanta a orla do véu de interrogações e revela-me, oscilante entre a opacidade e a transparência, como contraponto ao fascínio de paisagens secularmente míticas, a face negra da lua.

© Rita Pais verão de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário