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sábado, 19 de outubro de 2013

Medo de amar


Vinicius de Moraes



    MEDO DE AMAR

    Petrópolis
    O céu está parado, não conta nenhum segredo 
    A estrada está parada, não leva a nenhum lugar 
    A areia do tempo escorre de entre meus dedos 
            Ai que medo de amar! 

    O sol põe em relevo todas as coisas que não pensam 
    Entre elas e eu, que imenso abismo secular... 
    As pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio 
            Ai que medo de amar! 

    Uma mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo 
    Tanta promessa de amor, tanto carinho para dar 
    Eu me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco 
    Ai que medo de amar! 

    Dão-me uma rosa, aspiro fundo em seu recesso 
    E parto a cantar canções, sou um patético jogral 
    Mas viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço... 
            Ai que medo de amar! 

    E assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço 
    Sou como a última sombra se estendendo sobre o mar 
    Ah, amor, meu tormento!... como por ti padeço... 
            Ai que medo de amar!

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