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sábado, 28 de dezembro de 2013

Trecho de água viva Clarice Lispector


Trecho de Àgua Viva
“Agora vou falar da dolência  das flores para sentir mais a ordem do que existe.Antes te dou com prazer o néctar, suco doce que muitas flores contém e que os insetos buscam com avidez.Pistilo é o orgão feminino da flor que geralmente ocupa o centro e contém o rudimento da semente.Pólen é pó fecundante produzido nos estames e contido nas anteras.Estame é o orgão masculino da flor.É composto por estilete e pela antera na parte inferior contornando o pistilo.Fecundação é a união de dois elementos de geração - masculino e feminino - da qual resulta o fruto fértil.
“E plantou Javé Deus um jardim no Éden que fica no Oriente e colocou nele o homem que formara”(Gen.11-
Quero pintar uma rosa.
Rosa é flor feminina que se dá toda e tanto que para ela só resta alegria de se ter dado.Seu perfume é mistério doido.Quando profundamente aspirada toca no fundo íntimo do coração e deixa o interior do corpo inteiro perfumado.O modo de ela se abrir em mulher é belíssimo.As pétalas tem gosto bom na boca - é só experimentar.Mas a rosa não é it.É ela.As encarnadas são de grande sensualidade.As brancas são a paz do Deus.É muito raro encontrar na casa de flores rosas brancas.As amarelas são de um alarme alegre.As cor de rosa são em geral mais carnudas e tem a cor por excelência.As alaranjadas são produto de enxerto e são sexualmente atraentes.
Preste atenção e é um favor: estou convidando voce a mudar-se para um reino novo.
Já o cravo tem uma agressividade que vem de certa iritação.São ásperas e arrebitadas as pontas de suas pétalas.O perfume do cravo é de algum modo mortal.Os cravos vermelhos berram em violenta beleza.
Os brancos lembram o caixão de criança defunta: o cheiro então se torna pungente e a gente desvia a cabeça para o lado com horror.Como transplantar o cravo para a tela?
O girassol é o grande filho do sol. Tanto que sabe virar sua enorme corola para o lado de quem o criou.Não importa se é pai ou mãe .Não sei. Será o girassol flor feminina ou masculina? Acho que é masculina.
A violeta é introvertida e sua introspecção é profunda.Dizem que se esconde por modéstia.Não é.Esconde-se para poder captar o próprio segredo.Seu quase-não-perfume é glória abafada mas exige da gente que
o busque.Não grita nunca seu perume.Violeta diz levezas que não se podem dizer.
A sempre-viva é sempre morta. Sua secura tende à eternidade. O nome em grego quer dizer: sol de ouro.
A margarida é florzinha alegre.É simples e à tona da pele.Só tem uma camada de pétalas. O centro é uma brincadeira infantil.A formosa orquídea é exquise e antipática.Não é expontânea.Requer redoma.Mas é mulher esplendorosa e isto não se pode negar..Também não se pode negar que é nobre porque é epífita.Epífitas nascem sobre outras plantas sem contudo tirar delas a nutrição.Estava mentindo quando disse que era antipática.Adoro orquídeas.Já nascem artificiais, já nascem arte.
Tulipa só é tulipa na Holanda.Uma única tulipa simplesmente não é.Precisa de campo aberto para ser.
Flor dos trigais só dá no meio do trigo.Na sua humildade tem a ousadia de aparecer em diversas formas e cores.A flor do trigal é bíblica.Nos presépios da Espanha não se separa os ramos de trigo.É um pequeno coração batendo.
Mas angélica é perigosa.Tem perfume de capela.Traz êxtase.Lembra a hóstia.Muitos tem vontade de come-la e encher a boca com o intenso cheiro sagrado.
O jasmim é dos namorados.Dá vontade de por reticências agora.Eles andam de mãos dadas, balançando os braços, e se dão beijos suaves ao quase som odorante do jardim.
Estrelícia é masculina por excelência. Tem uma agressividade de amor e de sadio orgulho.Parece ter crista de galo e o seu canto.Só que não espera pela aurora.A violencia de tua beleza.
Dama-da-noite tem perfume de lua cheia.É fantasmagórica e um pouco assustadora e é para quem ama o perigo.Só sai de noite com seu cheiro tonteador.Dama-da-noite é silente.
E também da esquina deserta e em trevas e dos jardins de casas de luzes apagadas e janelas fechadas.
É perigosíssima: é um assobio no escuro, o que ninguém aguenta.Mas eu aguento porque amo o perigo.Quanto à suculenta flor de cáctus, é grande e cheirosa e de cor brilhante.É a vingança sumarenta que faz a planta desértica.É o explendor nascendo da esterelidade despótica.
Estou com preguiça de falar da edelvais.É que se encontra à altura de tres mil e quatrocentros metros de altitude.É branca e lanosa.Raramente alcançável: é a aspiração.
Gerânio é flor de canteiro de janela.Encontra-se em São Paulo no bairro do Grajaú e na Suiça.Vitória-régia está no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Enorme até quase dois metros de diametro.Aquáticas, é de se morrer delas.Elas são o amazônico dinossauro das flores.Espalham grande tranquilidade.
A um tempo majestosas e simples.E apesar de viverem no nível das águas elas dão sombras.Isto que estou te escrevendo é em latim:de natura florum.Depois te mostrarei o meu estudo já transformado em desenho linear.
O crisântemo é de alegria profunda.Fala através da cor e do despenteado.É flor que descabeladamente controla a própria selvageria.
Acho que vou ter que pedir licença para morrer.Mas não posso, é tarde demais.Ouvi o Pássaro de Fogo - e afoguei-me inteira.
Tenho que interromper porque - eu não disse? eu não disse que um dia ia me acontecer uma coisa? Pois aconteceu agora mesmo.”

{Trecho de água viva}

[Clarice Lispector]
MARCADORES: BIOGRAFIAS E REPORTAGENS, CONTOS, CORAGEM, PERFEIÇÃO

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Dia de natal



ANTÓNIO GEDEÃO, in MÁQUINA DE FOGO (Coimbra, Tip. da Atlântida Ed., 1961)

DIA DE NATAL

Hoje é dia de ser bom. 
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças, 
de falar e de ouvir com mavioso tom, 
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças. 

É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem, 
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria, 
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem, 
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria. 

Comove tanta fraternidade universal. 
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos, 
como se de anjos fosse, 
numa toada doce, 
de violas e banjos, 
entoa gravemente um hino ao Criador. 
E mal se extinguem os clamores plangentes, a voz do locutor 
anuncia o melhor dos detergentes. 

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu e as vozes crescem num fervor patético. 
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu? 
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético. 
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas. 
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante. 
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas 
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante. 
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates, 
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica, 
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates, 
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica. 

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito, 
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores. 
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito, 
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores. 
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha~se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar. 
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento 
e compra - louvado seja o Senhor! - o que nunca tinha pensado comprar. 

Mas a maior felicidade é a da gente pequena. 
Naquela véspera santa 
a sua comoção é tanta, tanta, tanta, 
que nem dorme serena. 

Cada menino 
abre um olhinho 
na noite incerta 
para ver se a aurora 
já está desperta. 
De manhãzinha 
salta da cama, 
corre à cozinha 
mesmo em pijama. 

Ah!!!!!!!!!! 

Na branda macieza 
da matutina luz 
aguarda~o a surpresa 
do Menino Jesus. 

Jesus, 
doce Jesus, 
o mesmo que nasceu na manjedoura, 
veio pôr no sapatinho 
do Pedrinho 
uma metralhadora. 

Que alegria 
reinou naquela casa em todo o santo dia! 
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas, 
fuzilava tudo com devastadoras rajadas 
e obrigava as criadas 
a caírem no chão como se fossem mortas: 
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá. 

Já está! 
E fazia-as erguer para de novo matá-las. 
E até mesmo a mamã e o sisudo papá 
fingiam 
que caíam 
crivados de balas. 

Dia de Confraternização Universal, 
dia de Amor, de Paz, de Felicidade, 
de Sonhos e Venturas. 
É dia de Natal. 
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade. 
Glória a Deus nas alturas
*

Em 1967, o poema NOITE DE NATAL foi publicado no jornal dos estudantes do Liceu de Camões. O reitor mandou apreender esse jornal.

*


(CC)

domingo, 22 de dezembro de 2013

Canto-te

 

 

Canto-te      para que tu definitivamente
existas
Canto o teu nome porque só as coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
Canto o teu nome como o homem fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras
Canto o teu nome como o feiticeiro invoca
a magia do remédio
Canto o teu nome como um animal uiva
de
Como os animais pequenos bebem nos regatos depois
das grandes feras
Canto-te
e tu definitivamente existes nos meus olhos
Sempre abertos porque é sempree os meus olhos
são os olhos da criança que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço

Canto-te
e os meus olhos sempre abertos são a pergunta
instante pendente de eu te interrogar

e interrogo as coisas em seu ser noctumo
em seu estar sombriamente presentes na tua claridade
obscura
E como é sempre
meus olhos abertos prescrutam-te

símbolo de tudo o que me foge
como apertar o ar dentro das mãos
e querer agarrar-te

oh substância 
Canto-te

com a fragilidade de tudo que existe perante
uma eternidade demasiado nocturna para os nossos
olhos infantis perante a tua antiguidade
futura
E a nossa voz é uma pequena onda no dorso 
do teu oceano de matéria
Um leve arrepio apenas na espantosa espessura
de teu éter
Ah no ar é que tudo acontece
no ar nocturno das idades esquecidas
que previamente desconheceremos
No espaço é que tudo acontece
e o espaço é uma grande        muito quieta 
onde os nossos olhos penetram
no não sabermos até onde
ali 
além 
no além onde tudo acontece
Oh
oh espaço de tudo ser tão ligeiro e impalpável
e sermos nós a respiração da
teu bafo ritmado
imperceptível distância
Oh       augusta majestática dignidade do silêncio
Oh impassibilidade da tua mecânica celeste
Oh organismo primeiro de todos os fins secretos 
da compreensão das coisas
Oh inorgânico organismo dos seres
que se devoram 
Oh       diz
a quem servimos nós de pasto
Canto-te
como quem pronuncia o Mantra esotérico do teu nome
Canto-te e grito
para que a poeira que se infiltra em todas as
coisas se erga de ti como um plâncton 
Oh Madre 
matriz das criaturas inferiores que rastejam
a teus pés cobertas de pó 
esse pó que a cada momento ameaça submergir-nos
Oh aranha enorme tecendo tua teia de pó
Oh       que desintegras tudo e tudo tu constróis
Ah       como nós lambemos tuas duras mãos
Oh       que fustigas nossos olhos com tua sombra
Enorme
Oh
         que deixas tanto espaço para o silêncio
         das mil pétalas
         dos mil braços esplendorosos em seu abandono
         dos murmúrios
          dos afagos
          sangue derramado sobre o mundo
Oh
Porque és sempre tão premente?
e sempre estás ausentemente
na tua constância em todas as coisas?

Oh sono
Oh         morte tão desejada e longa
         mágica povoada de átomos
milhões de espíritos enchem o teu sopro
E penetras em nós como uma bala
E tudo morre quando tu chegas
E tudo se dilui e se transforma em ti
            alada presciência de tudo acontecer
tão longe de nós e tão antigamente
e tudo nos ultrapassar com soberana indiferença
ante os nossos olhos cegos pelo teu negrume
Oh 
brilha para dentro de mim
Acende teus luzeiros em meus olhos
Ergue teus braços oh            prenhe de tudo
Oh vaso
Oh via láctea de nos amamentares com teu leite
de sombra
Oh       úbere e pródiga
Aleita tua ninhada faminta
Grande fera luzidia
Grande mito
Grande deus antigo
Oh         urna onde todos dormimos
Oh
Meus olhos choram já de tanto prescrutar-te
E canto-te
Canto-te
Para que tu existas
E eu não veja mais nada além de ti
E nada mais deseje senão que venhas outra vez
levar-me para dentro do teu ventre
de nunca mais haver
E nada mais haver que


Oh tu         definitivamente além



Ana Hatherly
Poemas de Eros Frenético e Contemporâneos
um calculador de improbabilidades
Quimera
1ª edição 2001

Recordações



Recordações 
Roberta Miranda

Sabe, amor 
Quando o sol te banhar 
Roçar o teu corpo 

E de leve o vento soprar 
As tuas lembranças... 

Não se esqueça que você 
Calou a voz da saudade 

Não se perca de novo 
Não deixe que o tempo iluda tua poesia 

Mas que alegria te dar um bom dia 
Te trazer pra mim 

Quando a lua brotar nos teus sonhos 
Soluçar o amor 

Quando o céu desmaiar no teu corpo 
Beber teu suor 

Quando a brisa brigar e ferir teu prazer 
Sou eu em você 

Quando o amor chegar, por favor 
Não se perca de mim 

Meu domingo sem sol 
Me acordou pra chorar por você 

Quantas vezes briguei com o meu corpo 
Pra não te querer 
Minha poesia 

Que alegria 
Te dar um bom dia 
Te trazer pra mim

N.Diniz




Nem tudo é exatamente como a gente quer ,eu totalmente livre de pressões e avaliações no meu momento lúdico ,sentada na poltrona do sossego hahaha..,confabulando palavras e pensamentos ,portanto que possamos usar  a liberdade,igualdade ,fraternidade com responsabilidade ,bem sei o ser humano tem sua adversidade ,mas concluo cada um fazendo sua parte no contexto social já será meio caminho andado para glória ,é uma forma de agradecer a Deus pela oportunidade de conhecer essa vida , olha só ,eu particularmente não vivo num mar de rosas ,passo por cada percalços ,mas mesmo assim sigo na esperança de dias melhores ,seja lá o que vier eu arregaço as mangas e parto ao combate cotidiano ,nem tudo eu venço ,mas luto ,cada ano que passa  analiso e olho pra trás e penso ,nossa valeu ,cheguei aqui e agora ?. .. ,bem aí entrego a Deus ,"que seja feita a tua vontade assim na terra como no céu ",tenho ainda desejos mil ,entretanto se ainda houver chance quero realizar alguns ,hahaha...,existe um oculto ,mas este e provável ser realizado em outra esfera ,talvez até em outra vida ,se houver ,tô  tranquila ,tudo no controle da minha vida ,amo esse momento ,filhos ,pais ,irmãos ,amigos sinceros ,religião,almejando a todos que fiz amizade ,e deixei de fazer também ,um Natal com felicidades mil, presentes  pois faz parte do momento hahahaha..,saúde ,paz ,Deus no coração ,e vamos que vamos se Deus é por nós quem será contra nós ?
No toque final quero apenas dizer  : gratidão Deus estou aqui ,vi vivi,venci ,e de quebra amei demais ...🌹

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Dan cezar

De tudo tenho certeza e abrevio sentimento :acredite valeu

__________🌹

Tenho talvez uma certeza que me difere. 

Que não fere ninguém, apenas sinto.

É um instinto de verdade, uma beleza de sentimento que marca esse meu momento.

Se o tempo se faz início, agradeço.

Exerço minha sintonia, e, sigo alegria, fé, amor.

Sei que ali na frente vou encontrar dor, pois, vida que é arte, dor, faz parte.

Procuro um caminho de luz, pois, minha coragem é tremenda. 

Não emenda com falsas verdades, com ridículas bobagens que fazem de qualquer tempo, o passatempo que não valeu.

Sou mais eu, quando encaro qualquer nunca de frente e acredito no sempre.

Minha vida é voz do corpo, ativa. 

Minha emoção dá viva à toa onde soa qualquer cumplicidade.

De vida, de corpos, de intenções.

Se minhas atenções hoje são pra você, é sinal bom. Você vestiu o tom, e se fez.

Mais uma vez me emociono, quando escrevo, você.

Porque perceber quem vale à pena, às vezes demora.

Mas com você, na hora, minha hora se admitiu serena.

Faço pequena minha saudade, porque na verdade, você é presença, inteira.

E se quero uma brincadeira, é de ser feliz, até onde der.

Porque enquanto eu puder, quero fazer dos meus dias felizes, os mais longos, os mais nossos.

Foi bom te saber. Foi ímpar caber, dentro.

E se hoje você é centro, uma palavra: valeu!


Dan Cezar

Conta o tempo






Conta e Tempo

Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...

soneto escrito, no século XVII, por Frei António das Chagas - frade da Ordem de São Francisco. - de seu nome , António Fonseca Soares
(através de Hortênsia Calçada)

Ilustração de Alia Qunhua

sábado, 14 de dezembro de 2013

Balada de neve

Balada de Neve


É talvez a ventania:Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Augusto Gil


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Dan césar

Meu tempo de você é, foi, volta, fica, vai, vem, dança, balança, sonha, azucrina, gargalha, chora, decide, pensa, repensa, abraça, assopra, beija, faz, ama.
Meu tempo de você é meu melhor tempo.
Meu tempo de você é nosso maior passatempo.
Meu tempo é você.

Dan Cezar

Dan césar


Um dia tive a infeliz ideia de contar o tempo longe de você. Concluí que não sei contar até sempre.

Dan Cezar

Dan césar

Pensar-te é arte de uma saudade que me empresta um sorriso, seu.

Dan Cezar

Dan césar

e você ri
e você chora
e você para
e você olha
e você sente
imensamente
essa saudade 
que não mente.
vem,
e demora
e fica
e causa
em mim
um instante, assim
consequência.
um até te separa
daquilo que sinto
daquilo que é fé 
daquilo que é seu
daquilo que é
amor tanto
enquanto, verdade.

Dan Cezar

Dan césar

basta
um instante
um tato
bastante
cortante
viciante
totalmente
apaixonante
que eu fico
assim,
céu, 
seu.

Dan Cezar

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Vida

 

Vida que te queremos o tempo todo, 
e ao tê-la te desprezamos,
Não nos machuca vida, 
somos nós que te machucamos,
sempre te cobrando, 
sempre te reclamando.

Quando tu vida, 
sem pressa se mostra, 
tranqüila a cada minuto que passa 
e nós não te sentimos, 
não te reparamos, 
não nos doamos,
e nem te perdoamos 
pelo tempo que és, 
em nosso ver apressada e curta

Sempre estamos a te exigir,
e quando vens a extinguir, 
nós queremos de qualquer maneira 
e nos faça prosseguir, 
mesmo que rastejando, 
mesmo que gotejando, 
queremos te sentir...

Que aprendamos a fazer dos nossos dias, 
dias bem mais vividos, 
bem mais compreendidos, 
bem mais apreciado, 
amado, sentido.
Que o nosso caminhar 
seja em passos lentos, 
fazendo de cada momento,
no relógio do nosso tempo, 
minutos vividos de encantamentos.

Quando a morte vier ao nosso encontro, 
deixaremos nossos corpos 
e sorrindo diremos:
Obrigada Vida!
Te Percebi! 
Te vivi!

E com um beijo de despedida 
te amei 
Vida!