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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Olavo Bilac e Lustato Tenterrara

O Pássaro Cativo

Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
batendo as asas, cai na escravidão!

Dás-lhe então, por esplêndida morada,
Gaiola dourada;
 
Dás-lhe alpiste, e água fresca,
e ovos
e tudo.

"Por que é que, tendo tudo,
há de ficar o passarinho mudo?

Arrepiado e triste, sem cantar?"

É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;

Se os pássaros falassem, 
talvez os teus ouvidos escutassem
Este pássaro cativo dizer:

"Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro na mata livre
em que voar me vistes;

Tenho água fresca
num recanto escuro da selva onde nasci;

Da mata entre os verdores, tenho frutos e flores
Sem precisar de ti!

Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola,
De haver perdido aquilo que perdi...

Prefiro o ninho humilde
construído de folhas secas,
plácido, escondido.

Soltas-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?

Quero saudar as pombas do arrebol!

Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas alegres cantigas,
as quais aqui só as canto triste!

Por que me prendes? Soltas-me, covarde!

Deus me deu por gaiola a imensidade!
Não me roubes a minha liberdade...
Quero voar! Voar!"

Estas cousas o pássaro diria, se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
vendo tanta ardente aflição, e tua alma fria.

E a tua mão tremendo abriria
a porta da prisão!

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