songs

songs

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A dança das horas -Ivo Barroso






A DANÇA DAS HORAS

Dançando as horas se vão

Pelos caminhos do Tempo

Numa leveza de pluma…

Quem vedes na marcação

Do compasso e contratempo ?

- Uma.

 

Dançando se vão as horas

Sob os véus de fina gaze

Dançarinas semi-nuas…

Quem dança, das mais sonoras,

Esta belíssima frase?

- Duas.



Rapidamente bailando,

Cada qual mais erradia,

Desfila por sua vez.

E aquela, aos poucos finando

Nos horizontes do dia ?

- Três.

 

Vão dançando a tarantela…

- Mas, da última, o perfil

Me parece horrível e atro.

Ah! não falemos daquela;

Esta aqui é mais gentil.

- Quatro.

 

Sabeis acaso do nome

Da de vestido de faile

Que lhe queda como um brinco ?

Que pena! Logo se some …

A mais ligeira do baile!

- Cinco.

 

E aquela, de azul vestida,

Tão triste no seu bailar,

Seu nome acaso sabeis?

Parece o adeus da partida

Para nunca mais voltar…

- Seis.

 

E esta, bailando qual fronde

Ao vento que vem do mar

Em que a lua se reflete ?

Trajada como o “gran’ monde”;

Esbelta no seu bailar ?!

- Sete.

 

Vós me enganais no bailar:

Sei que passais sem demora

(Quisera ser tão afoito

Que vos pudesse parar).

Mas, e esta que dança agora ?

- Oito.

 

Sob os vestidos de gazes

Trazeis convosco a ruína;

Vosso olhar não me comove,

Falazes horas, falazes…

Mas, e aquela bailarina ?

- Nove.

 

Dançou o rápido “allegro”;

Nem sequer o rosto olhou-me

E eu mal notei os seus pés.

E esta, vestida de negro,

Sabeis acaso o seu nome ?

- Dez.

 

Agora passam mais lentas:

Vede aquela que aí vem

Dando passadas de bronze

Pelas horas sonolentas…

Que nome será que tem ?

- Onze.

 

Aquela outra que se arrasta

Custando tanto a passar,

Que eternamente repouse

Já de tão velha e tão gasta.

Como se deve chamar?

- Doze.

 

Fechando o ciclo fugace

A de perfil atro vem

E nos leva em seu transporte.

Pois dessa, de horrenda face,

Dizei-me o nome, se tem?!

- MORTE.

(1948)

Nenhum comentário:

Postar um comentário